segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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As pilhas de cartas agora ocupam um espaço maior que o desejado. Todas escritas por mim, mas não enviadas ao destinatário por saber que não teriam efeito nenhum. Nelas, conto coisas normais. Como está sendo o mês, como foi o dia em que fiz minha tatuagem, o modo como as coisas tem andado depois que você foi embora ou como tudo ficou completamente parado depois disso. Eu continuo, todos os dias, acordando como se você ainda estivesse do meu lado. Dor imensa, ao ver que naquela parte da cama não se encontra ninguém. Só um amontoado de papéis, uma caneta velha e um turbilhão de sentimentos não correspondidos. Quando as cartas que eu escrevia me faziam sentir bem, ou pelo menos um pouco mais aliviada, elas até eram úteis. Ocupavam espaço, mas ainda assim eram úteis. Comecei pela mesa da sala, depois o sofá e agora, elas ocupam todo o espaço do meu apartamento. Apartamento esse, que é moldado em lembranças e onde a saudade é quem mais se faz presente. Hoje, uma pilha de cartas imensa ocupa o lugar no sofá onde você costumava sentar, sempre arrumando um espaço para mim ficar perto o bastante de você, de modo que pudesse sentir sua respiração. Lembro de que você ficava fazendo carinho em meu cabelo com seus dedos. Sinto falta de tudo isso. Continuo contando para você sobre minha vida em cada uma dessas cartas. Não te envio, porque ainda cultivo uma esperança inútil dentro de mim de que um dia você vai voltar e eu vou mostrar todos esses papéis como um diário sobre como foram os meus dias sem a sua presença. Mas fica cada vez mais triste ver que isso nunca vai acontecer. E que vou ter de me acostumar com lembranças talhadas em cada centímetro de mim e agora, se transferindo em escala cada vez maior para todo o lugar onde moro. Mas seria ainda mais triste ter de te apagar daqui como se nunca tivesse te conhecido. Você me dói cada vez mais, mas foi só depois de ter você por perto que eu consegui entender o significado de viver. Por mais que hoje em dia, cada pedaço de mim se vai um pouco a cada volta que o ponteiro dá no relógio. Quando minhas sinapses ficarem cada vez mais fracas, voltarei a ler todas essas cartas. Só para lembrar o sentimento de felicidade que você colocou no meu peito, mas levou embora junto com suas malas cheias de roupas. Apesar de tudo, continuo a gostar cada dia mais de você. Você que hoje, para mim, é um monte de cartas amontoadas pela casa e um pedaço de mim que insiste em continuar intacto. Saudades.

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